Nesses tempos de redes sociais efervescentes, infelizmente é comum ver informações distorcidas sendo disseminadas amplamente.
A ABRAPAC abre a seguir um espaço para o relato do comandante George Sadok, membro da associação que recebeu recentemente um reconhecimento público da companhia aérea para a qual trabalha.
A homenagem veio em virtude de uma iniciativa que evitou o cancelamento de um voo internacional.
Segue o depoimento do cmte. Sadok:
“O nosso voo sairia do Aeroporto do Galeão para Miami às 13h00 e passou por um processo de manutenção não programada, com atraso relevante pela troca de componentes. Logo após a liberação do voo, uma colega da tripulação informou a ocorrência de um grave problema familiar, que a deixou sem nenhuma condição emocional de continuar na equipe.
Eu e os demais tripulantes decidimos em conjunto pela necessidade de desembarca-la, para que resolvesse a sua situação. No entanto, com um membro a menos, o nosso grupo se caracterizava como tripulação simples e prosseguir seria desrespeitar a regulamentação. Precisávamos de um substituto, mas a reserva não havia sido estendida devido ao tempo necessário para a manutenção da aeronave.
Por lei, o tripulante de sobreaviso tem duas horas e meia para estar no local do trabalho. Esse período, somado aos atrasos registrados na manutenção não programada e na conversa com a tripulante, excederia o limite previsto em regulamentação. Foi nesse momento em que eu, como um dos comandantes, considerei a possibilidade da minha esposa, a comissária Daniela Sadok, ser essa possível substituta.
É importantíssimo ressaltar que a minha esposa não estava de folga naquela data. Ela estava em serviço, mas liberada pela escala de voo naquele horário por ter solicitado apresentação por conta própria na cidade em que sairia o seu voo, atitude comum na aviação. Naquele mesmo dia, ela iria de extra para Belém (PA) e, em seguida, voaria a trabalho para Miami, mesmo destino do meu voo. A alteração seria simples, mudaria apenas o horário e o local de partida.
Conversei com a escala de voo e informei que tinha uma solução não usual para o problema: pedir à Daniela que fizesse essa substituição, já que ela estava em horário de serviço e próxima ao aeroporto. A escala concordou, conversei com a minha esposa, que se dispôs a ajudar, e conseguimos fazer com que o voo não fosse cancelado, respeitando todos os parâmetros estabelecidos na regulamentação.
O voo foi tranquilo, os passageiros, cientes da situação, agradeceram a Daniela por ter se apresentado para compor a tripulação e pudemos fazer o nosso trabalho. O mais importante dessa situação é a empatia com os passageiros, nossos clientes. Conseguimos fazer com que chegassem ao destino de suas reuniões, férias, pontos turísticos e demais objetivos, respeitando o planejamento que fizeram. Pensar e se colocar no lugar das pessoas é fundamental em qualquer atividade profissional, atitude que temos e tivemos, principalmente naquele dia.
Eu fiquei feliz com o reconhecimento da LATAM, pois demonstrou que estamos em uma empresa que valoriza as pessoas e reconhece o seu empenho e dedicação. Qualquer demonstração de ironizar essa atitude nos aproxima do retrocesso. Apenas poderia desestimular a companhia a continuar reconhecendo os êxitos de seus profissionais de forma clara e transparente, fato que eu consideraria extremamente prejudicial a todos nós, tripulantes.”
Comandante George Sadok
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