Por: Cmte. Pedro Canabarro
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O voo controlado
Enquanto era realizado o primeiro voo tripulado, alguém já pensava em como realmente controlar aqueles balões. O objetivo agora passava ser voar para onde se desejasse, deixando de ser o piloto do balão um mero passageiro ao sabor dos ventos.
Naquele mesmo ano de 1783 Jean-Baptiste Marie Meusnier de La Place, general do corpo de engenharia francês, já testava um projeto que seria o precursor do voo controlado. La Place pensava que um dirigível elipsoide apresentaria menor resistência ao ar e uma melhor manobrabilidade.
Ele seria dotado de um outro balão interno de hidrogênio, circundado por ar atmosférico, selado pelo balão externo. O ar poderia ser injetado por ventiladores, com a função de manter a forma do aeróstato, além de servir de lastro, proporcionando controle da altitude.
O projeto incluía, ainda, aletas horizontais para a estabilidade e três grandes hélices a serem acionadas manualmente. Porém, a morte em batalha do inventor impediu que o protótipo saísse do papel.
Passariam-se 69 anos até que as ideias de Jean-Baptiste fossem usadas com êxito. Henri Giffard, um talentoso engenheiro francês, fazendo uso da teoria de La Place e com auxílio de um motor a vapor de 3 hp, alçou os ares em Paris no dia 24 de setembro de 1852, percorrendo 27 km. Esse foi considerado o primeiro voo controlado e motorizado da história.
Um grande avanço sem dúvida. Mas o balão ainda apresentava o mesmo problema dos anteriores: não conseguir voltar ao local de partida e nem avançar contra o vento. Problema esse que seria solucionado somente 32 anos mais tarde.
Gaston e Albert Tissandier, discípulos de Giffard, realizaram em 1883 e 1884, experiências que procuravam mostrar que uma hélice movida por um motor elétrico poderia dar a dirigibilidade desejada a um dirigível.
Assim, seguindo os passos dos irmãos Tissandier, o capitão Charles Renard, diretor do Estabelecimento Militar da Aeronáutica de Chalais-Meudon, e seu colega e colaborador Arthur Krebs, constroem o La France, um aeróstato de 51 metros de comprimento, com um diâmetro de 8,40 m e um motor elétrico de 96 kg, que fornecia uma potência prevista de 8 hp a 3600 rpm – com uma hélice de 7 metros e 40 kg.
Em 9 de agosto de 1884, o La France decola para uma viagem de vinte e três minutos, aterrissando no mesmo ponto de onde havia partido. Assim nascia o primeiro voo controlado da história da aviação.
E talvez a primeira polêmica: um brasileiro contestou veementemente o feito e requereu para si o desenvolvimento de tal artefato. Em 1881, o paraense Júlio Cezar Ribeiro de Souza já havia desenvolvido e apresentado em Paris sua teoria para a construção de um balão dissimétrico, bem com um modelo deste balão que teve êxito em voar contra o vento e ser extremamente controlável.
O La France, de Chalais-Meudon e Krebs, apresentava as mesmas medidas e proporções do projeto de Júlio. E, por coincidência, os idealizadores do La France estiveram presentes na apresentação de Júlio em Paris.
Jornais da época divulgaram a polêmica e ingleses e portugueses ficaram solidários ao brasileiro.
Um século havia se passado desde primeiro voo dos irmãos Montgolfier, até que fosse solucionado o problema da dirigibilidade. A busca por essa solução originou diversas teorias que evoluíram para além do limite do balão a gás, chegando ao estudo e ao desenvolvimento do voo com aparelhos mais pesados que o ar.
Na obra “Tratado dos Princípios Mecânicos da Navegação Aérea”, do inglês George Cayley, publicada em 1809, são estabelecidos os princípios de superfície aerodinâmica e resistência do ar.
Escreveria Cayley: “O problema consiste em estabelecer uma superfície plana, de determinado peso, impelida por força capaz de vencer a resistência do ar…”
Em 1810, outro inglês, Thomas Walker, escreve um tratado sobre a arte do voo com meios mecânicos. Já em 1898, o Conde Ferdinand Adolf August Heinrich von Zeppelin projeta seu LZ 1, o primeiro de muitos Zeppelins que iriam revolucionar o conceito de voar e de transportar pessoas e cargas. A contribuição do Conde alemão transformaria não somente a aviação, mas também o mundo.
Anos antes, em 1863, Gabriel de La Landelle havia criado a expressão que definiria o voo em aparelhos mais pesados que o ar: aviation, Ele usou, do latim, “avis” que significa pássaro, e “actio” que significa ação.
Assim surgia o termo que viria a inspirar, seduzir e encantar não somente entusiastas e inventores, mas toda a humanidade.
Em breve, a parte 3 – fique atento a nossas mídias.
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