Resumo
O trabalho em turnos e noturno afeta diretamente a saúde do trabalhador, situação essa vivenciada pelos pilotos da aviação civil. Além disso, é uma atividade desgastante, dada a sua alta complexidade, podendo trazer prejuízos à saúde. Objetivo: Analisar a prevalência e os fatores organizacionais e de sono associados aos sintomas musculoesqueléticos entre pilotos da aviação comercial, bem como as regiões corporais de maior prevalência dos sintomas. Métodos: Foi realizado um estudo transversal com os pilotos associados da Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil - ABRAPAC. Dos 2530 pilotos associados, um total de 1234 pilotos participou voluntariamente da pesquisa respondendo o questionário online, no período de novembro de 2013 a março de 2014. O questionário continha perguntas sobre condições sociodemográficas, trabalho, saúde, estilo de vida e sono. Os desfechos do estudo foram os sintomas musculoesqueléticos avaliados por meio do Questionário Nórdico de Kuorinka, adaptado e validado para a cultura brasileira. Para a análise de regressão de Poisson, com variância robusta, dos sintomas musculoesqueléticos crônicos (nos últimos 12 meses e nos últimos 12 meses relacionados ao trabalho) e agudos (nos últimos sete dias e nos últimos sete dias relacionados ao trabalho) foram dicotomizados em “sem sintoma” e “com sintoma”. Foi classificado com sintoma o piloto que relatou dor em pelo menos uma das quatro regiões corporais de maior prevalência na amostra estudada, sendo essas, superior das costas, inferior das costas, pescoço e ombros. Em todos os testes foi considerado significante o valor de p<0,05. Os dados foram analisados por meio do programa STATA 12.0. Resultados: A prevalência dos sintomas musculoesqueléticos crônicos, considerando as nove regiões corporais avaliadas, foi de 65,9% e dos sintomas relacionados ao trabalho foi de 46,9%. Quanto aos sintomas musculoesqueléticos agudos e os sintomas relacionados ao trabalho, a prevalência foi de 28,0% e de 23,3%, respectivamente. As queixas mais prevalentes foram nas regiões do tronco (parte inferior das costas, superior das costas, pescoço) e ombros. Verificou-se que trabalhar entre 11 e 21 anos como piloto, com a jornada mensal média acima de 66 horas, em turno irregular, ter sono insuficiente e sintomas de insônia foram fatores associados para os SME crônicos. Esses mesmos fatores também foram associados para os SME crônicos relacionados ao trabalho. Para os SME agudos, observou-se que trabalhar sete dias consecutivos ou mais, ter má qualidade de sono e sintomas de insônia foram fatores associados. Esses mesmos fatores também foram associados para os SME agudos relacionados ao trabalho. Conclusão: Conclui-se que a prevalência dos sintomas musculoesqueléticos entre os pilotos da aviação comercial pesquisados é elevada e que problemas na organização do trabalho e de sono são fatores associados a esses sintomas. Sendo as regiões corporais de maior prevalência as do tronco (parte inferior e superior das costas, pescoço), seguidas do ombro.
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