Resumo
O trabalho na vida do homem é de caráter primordial, podendo através do mesmo obter realizações pessoais, profissionais, além de toda consequência que o processo de trabalho desencadeia no mercado econômico e na saúde coletiva. Porém, para que isso aconteça é importante que o trabalhador esteja apto, capacitado para o trabalho. O piloto de avião, por exercer uma atividade profissional bastante complexa e que exige diferentes competências, necessita de uma grande capacidade cognitiva e física. No entanto, as condições de trabalho dos pilotos, as quais incluem horários irregulares de trabalho, ritmo intenso, longas jornadas de trabalho, grande pressão psicológica, além do estresse, podem contribuir para o envelhecimento funcional precoce. Objetivo: Analisar a associação entre a organização de trabalho e os aspectos de saúde com a capacidade para o trabalho de pilotos da aviação comercial. Métodos: Trata-se de uma pesquisa epidemiológica, com corte transversal, em uma amostra de 1234 pilotos da aviação comercial, que realizavam voos de rotas nacionais e internacionais e que estavam cadastrados na Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil (ABRAPAC). A coleta de dados foi realizada através de questionário on-line com dados sociodemográficos, saúde e estilo de vida e trabalho. As variáveis foram descritas por meio de frequências absolutas e relativas. Para comparação entre as proporções foram realizados os testes de hipóteses qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fisher. Para comparação das médias do Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) de acordo com o estresse ocupacional, realizou-se o teste de ANOVA com pós-hoc de Bonferroni. Para avaliar os fatores associados à incapacidade para o trabalho foi realizada a análise de Poisson, com variância robusta. O nível de significância adotado em todos os testes foi de 5%. As análises estatísticas foram realizadas no STATA 12.0. Resultados: Grande parte dos pilotos era do sexo masculino (97,1%), vivia com companheiro(a) (84,6%), tinha graduação completa ou incompleta (71,3%) e idade inferior a 39 anos (52,4%). A prevalência de ICT moderado e baixo foi de 21%. Verificou-se que não dormir o suficiente (RP 1,59, IC 95% 1,27-2,00), ter menos de dez dias de folga por mês (RP 1,67, IC 95% 1,29- 2,17), ter frequentes atrasos operacionais (RP 1,43, IC 95% 1,00-1,56) e ter jornada mensal de voo de 66 horas ou mais (RP 1,24, IC 95% 1,00-1,56) foram fator de risco para o ICT moderado ou baixo, sendo que o trabalho passivo (RP 0,58, IC 95% 0,39-0,85) foi fator de proteção. Conclusão: A organização do trabalho foi fator determinante para a diminuição da capacidade para o trabalho dos pilotos estudados, em especial os aspectos relacionados ao trabalho em turnos e noturno e suas repercussões na qualidade do sono.
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